sexta-feira, 8 de setembro de 2023

 

A Festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari: Fé, Festa e Cultura


Livreto "A Festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari: Fé, Festa e Cultura", publicado pela Editora Amazônica Bookshelf (2020), em parceria com o Museu do Marajó Padre Giovanni Gallo e Irmandade dos Devotos do Glorioso São Sebastião é mais uma obra de Marinete Silva Boulhosa, resultante das pesquisas, registros e experiências no Marajó.


Através da fotografia documental, o livreta apresenta os momentos que marcam a Festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari, na Ilha do Marajó, das peregrinações da imagem do santo até a missa de encerramento do evento. 

Em breve em versão digital





terça-feira, 4 de junho de 2019

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Livro Entre a Sela e o Santo

livro elaborado a partir da pesquisa de campo realizada no mestrado em antropologia, pela Universidade Federal do Pará -UFPA, em 2007. O livro trata da identidade do vaqueiro marajoara tendo como fio condutor a ocupação de vaqueiro e a fé no santo padroeiro, São Sebastião. A partir do trabalho de campo e da observação direta, o universo dos campos naturais do Marajó e a vida e lida do vaqueiro  é, aos poucos revelada, ora sob o sol castigaste ou a chuva torrencial, ora sob a proteção e fé em São Sebastião que leva à realização da maior homenagem a esse santo, no Brasil.
O livro foi lançado em novembro de 2017 na Feira Internacional de Turismo da Amazônia -FITA.

EM BREVE VERSÃO DIGITAL!

sexta-feira, 3 de junho de 2016

CAMPOS DO MARAJÓ

Dividido naturalmente em duas regiões distintas, os campos naturais a leste e a floresta tropical a oeste, o Marajó é um lugar impar, sem igual.

Os campos naturais do Marajó não só definem a ecologia dessa região, mas também influenciam a vida, a lida e a gente do Marajó, onde a figura do vaqueiro marajoara foi forjada sob o sol castigante da estiagem e as chuvas que provocam a "cheia do Marajó". 
As fotos aqui compartilhadas, revelam um pouco desses campos no período de chuva (dezembro à abril) e a estiagem (agosto a novembro), onde vê-se a mudança da paisagem.



Búfalos no Marajó - introduzidos na Ilha em 1895 se adaptaram muitos bem às paisagens marajoaras. Cachoeira do Arari. 




Campos naturais - Distrito de Retiro Grande - Cachoeira do Arari. 



Vaqueiros tocando búfalo pela PA 148, estrada que liga Salvaterra à Cachoeira do Arari. Ora sob o campos, ora sob o asfalto, o vaqueiro é o "mestre dos campos".




Vaqueiro reunindo os búfalos nos campos da grande Ilha. 



 Ora água, ora seca. A paisagem com terra rachada, as famosas "terroadas" do Marajó relevam a mudança do cenário dos campos em tempos de estiagem.




Em busca de água para beber ou refrescar-se no calor, os búfalos disputam a água empoçada ou os pequenos córregos. 



sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Paisagens marajoara

 01- Um voo sobre o rio Arari


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 02 - PA 154, Estrada que liga Salvaterra à Cachoeira do Arari
 
 03 - Um passeio dos búfalos no lago da Soledade - Cachoeira do Arari


04 - Um close animal - Soure


 05 - Tanga marajoara - Museu do Marajó
 06 - Praia de Barra Velha - Soure
 07 - Campos inundados do Marajó - Soure
 08 - Pesca no Lago - Soledade - Cachoeira do Arari
09 - Polícia montada de Soure

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Vaqueiros marajoara
















Você sabe qual a origem do vaqueiro marajoara e porque ele é praticamente o ícone do Marajó?




Então venha comigo e conheça um pouco destes homens que constroem a história dos campos do Marajó...

 De índio a vaqueiro: a origem do vaqueiro marajoara
           
Montado em um cavalo marajoara, com o corpo ligeiramente inclinado para trás, a camisa aberta ao vento, calça enrolada até metade da perna, chapéu de palha enfiado na cabeça, pele curtida pelo sol, com apenas os dedões dos pés enfiados no estribo do cavalo, correndo pelos campos a tocar o gado branco e o búfalo. Este certamente é um dos personagens mais conhecidos do Marajó: o vaqueiro marajoara.

O vaqueiro marajoara é quase um ícone do Marajó, pois é a figura humana mais propagada e conhecida da Ilha. Ao folhear uma revista de turismo, ao navegar pela internet, ao abrir um folder ou ver um cartaz, fotografia, reportagem ou livros sobre o Marajó, ou ainda ao indagar às pessoas sobre o que lhe vem à mente ao falar de Marajó, pode-se constatar que a figura do vaqueiro é quase presença absoluta.

Sem desconsiderar, é claro, a dimensão geográfica da Ilha, bem como a diversidade natural e cultural e, as inúmeras atividades econômicas que nela são desenvolvidas; é possível afirmar que o Marajó dos campos, dos búfalos, dos vaqueiros é uma imagem recorrente, e está no imaginário de muita gente que, muitas vezes, nunca foi a Ilha. Mas onde estaria a origem disto?

Para se compreender o fato de ser um vaqueiro e não um pescador ou um barqueiro, a figura de maior destaque no Marajó, é preciso ir até o período de colonização da Ilha e observar as transformações sócio-culturais e econômicas provocadas pela instalação dos portugueses na Ilha do Marajó aos seus antigos moradores, os índios aruã.

Com o avanço da colonização portuguesa, ao lado das invasões francesas, holandesas e inglesas que já ocorriam, a ilha do Marajó, por conta de sua posição estratégica, que garantiria o controle do rio Amazonas e os recursos lá existentes, transformou-se em um importante campo de disputas dos povos europeus.

O navegador espanhol Francisco Yañez Pinzón teria sido o primeiro a chegar à costa nordeste da Ilha de Marajó no ano de 1499. Porém, no final do século XVI, eram os holandeses que desenvolviam um intenso comércio nas Guianas, tendo sido provavelmente os primeiros a estabelecerem contatos efetivos com os índios aruã.

Quando a Ilha começou a ser ocupada pela colonização, as terras marajoaras eram ocupadas por inúmeras tribos indígenas pertencentes ao grupo aruã, última fase de ocupação pré-colombiana no Marajó. Os aruã, segundo pesquisas arqueológicas e antropológicas, originaram-se do tronco lingüístico Aruak, que se distribuía pelos vales amazônicos, norte do Peru e Equador, sendo os aruã, uma das tribos mais representativas deste tronco linguístico, segundo Diégues Junior (1980).

De acordo com o mapa etno-histórico de Curt Nimuendaju (1981), havia na Ilha mais de cem tribos indígenas pertencentes ao grupo linguístico Aruak.

O povo aruã teria ocupado a Ilha por volta de 1.200 d.C. Foram contemporâneos ao período de colonização, e estenderam-se até o século XIX. Habitaram na costa amapaense, ilhas de Mexiana, Caviana e costa oriente da Ilha do Marajó. Eles estabeleceram-se em locais que já haviam sido ocupados por civilizações mais antigas, construindo aldeias às proximidades de rios navegáveis onde permaneciam cerca de vinte anos; praticavam a cultura de derrubada e queima para o cultivo de mandioca, milho, macaxeira, ervas entre outros; teciam redes, fabricavam canoas, além de dardos, arco e flecha. A cerâmica aruã é considerada simples, com predominância da decorativa (GALVÃO, 1962).

Assim, com a consolidação da colonização portuguesa, que contou com o apoio da igreja, com o estabelecimento da pecuária extensiva, que destaca Nunes Pereira (1956), serviu como importante elemento de povoação, conquista da terra, dominação do índio e fixação do colono, e com a introdução da mão-de-obra negra escrava, profundas transformações ocorreram na Ilha, não apenas no ponto de vista físico, mas principalmente cultural, pois sua conquista implicou na desorganização total do modo de vida das tribos indígenas que habitavam o Marajó, que além de terem suas aldeias transformadas em vilas de povoamento, serviram como mão-de-obra para a consolidação da colonização. 

Neste contexto, as transformações implementadas pela colonização portuguesa, que expandiu a lavoura, implantou a empresa pastoril e sistematizou a pesca, levou a reboque toda a organização sócio-cultural dos índios Aruã, transformando esses, em sua interação com brancos e negros escravos, nos primeiros vaqueiros da Ilha do Marajó, originados dentro de um regime escravocrata de trabalho. 

Miranda Neto (2005) salienta que ao se pensar numa Ilha, a primeira imagem que pode aflorar na mente é a de um pescador ou barqueiro, porém, as características físicas, geográficas e naturais da região leste da Ilha, por onde a colonização foi iniciada, propiciou o desenvolvimento da pecuária como principal atividade econômica e ofereceu o ambiente favorável para a formação de um novo tipo humano na Ilha: o vaqueiro, que se originou primeiramente dos índios e, historicamente, consolidou-se como um dos tipos característicos da Ilha do Marajó, pois na medida em que a atividade pecuária foi se consolidando, a figura do roceiro, coletor e do pescador, foi dando lugar a do vaqueiro marajoara.

Tratando sobre a formação da pecuária no Marajó, Pereira Nunes fala da participação da mão-de-obra indígena, nesse processo.  

Como à altura de 1564 já registrara Ayres Moldonado, ao descrever o estabelecimento do pastoreio nos campos dos Goitacases, também índios, Nheengaibas, Aruãs, Sacacas, Anajás, Maruanás, Mapuazes e outras, foram os mais eficientes curraleiros dos missionários e colonos lusos nas dilatadas campinas da ilha (...) Mas para isso muito concorreram a índole afetiva e delicada, a coragem e a inteligência daqueles índios marajoaras, cuidando, em base verdadeiramente humana, de rebanhos de animais bovinos, eqüinos, suínos, além de aves dos remotos campos da Península (...) Com o português aprenderam os índios de Marajó a trabalhar a gadaria amansando-a, pastoreando-a e rodeando-a na época da ferra e da apartação, aprendendo, quase ao mesmo tempo, ofícios de seleiro, ferreiro, carpinteiro, que lhes garantissem principalmente, tudo o que fosse necessário a sua cavalgadura (NUNES PEREIRA, 1956:49-50).

Sobre a participação da força escrava negra na composição da nova estrutura produtiva da Ilha, a pecuária, o autor acrescenta: 
Quando o negro foi introduzido na ilha e nas demais ilhas que barram a entrada do Amazonas, logo se irmanou nas mesmas vicissitudes e formas de trabalho, de luta e de sofrimento. Porque o vaqueiro índio, descido das malocas longínquas e o vaqueiro negro procedente em grande parte de centros de gadaria do continente africano, tinham um destino social comum: o de escravos, a serviço de colonos, mercedários, jesuítas e oficiais de El-Rei de Portugal (NUNES PEREIRA, 1956:59).

Deu-se, assim, dos índios aldeados, aos negros que foram trazidos inicialmente, para trabalharem nas lavouras, e depois, de homens livres, a origem dos vaqueiros do Marajó.

Mas o que contribuiu para fazer com que o vaqueiro do Marajó se tornasse esta figura tão representativa da Ilha? A meu ver, vários fatores concorreram para isto. Primeiramente, numa relação direta e óbvia, a secular pecuária da Ilha, que a tornou ainda no período colonial, num importante centro pastoril da Amazônia, espraiando-se pelos campos naturais da Ilha, em detrimento de outras atividades como a agricultura de mandioca, arroz, milho, cana-de-açúcar, a produção de cachaça de algumas fazendas e a pesca, consolidando-se como a principal atividade econômica do Marajó.

Somando-se a isto, tem-se a própria mídia que tem contribuído para que os cenários das fazendas marajoaras sejam conhecidos, cenários que estão no imaginário de muita gente que, às vezes, só conhece o Marajó pelo jornal, televisão, revista, internet ou de ouvir falar. Além da mídia, têm-se as publicações sobre o Marajó que correram o país, como os romances de Dalcídio Jurandir, cujo cenário das tramas eram as fazendas do Marajó; a classificação sobre os tipos regionais do Brasil do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE que desde a década de trinta, apresenta o vaqueiro como o tipo representativo do Marajó; e finalmente o turismo que tem, juntamente com as praias, as fazendas marajoaras, como principais atratividades turísticas, capazes de induzir fluxos para a Ilha. Esses fatores, certamente, contribuíram sensivelmente para reforçar a associação do vaqueiro ao Marajó, embora, a imagem construída e divulgada do vaqueiro marajoara, principalmente no que diz respeito ao turismo, é de certa forma idealizada e romantizada, o que muitas vezes oculta sua real condição sócio-econômica. 


REFERÊNCIA

BOULHOSA. M. S. Entre a sela e o santo. IFPA, 2017.










quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Marajó, minha ilha, meu chão...

Não é possível escrever a história social paraense sem o conhecimento da obra de Dalcídio Jurandir. Pouco a pouco ela se faz necessária e indispensável...(Vicente Salles)



Quero fazer deste espaço, um espaço onde eu possa mostrar e falar, como nativa, pesquisadora, apaixonada, antropóloga, do meu lugar, da minha aldeia, de minha grande ilha, de seu povo, de sua gente, de seus ciclos naturais, da água que invade as casas, da estiagem que racha o solo e do que vivo e vejo, nesta imensidão de ilha...


A ILHA DO MARAJÓ



Localização
Venha comigo fazer uma viagem no tempo, atravessando a baia do Marajó, e ancorar na Ilha Grande de Joanes e conhecer um pouco desse universo amazônico que é o Marajó.
Localizada ao norte do Brasil, nordeste do Estado do Pará, na desembocadura do rio Amazonas, está a Ilha do Marajó, a maior ilha fluvio-marinha do mundo, com uma área de 49.606 Km2, formada por 12 municípios, que com outras ilhas, em destaque as ilhas de Caviana, Mexiana e Gurupá, formam o arquipélago do Marajó.
A Ilha do Marajó está dividida naturalmente em dois grandes ecossistemas. A leste tem-se as regiões dos campos naturais, onde estão localizados os municípios de Cachoeira do Arari, Chaves, Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras e Santa Cruz do Arari. Na parte oeste da Ilha, denominada de região dos furos, estão os terrenos mais baixos, sujeitos a inundações periódicas, e também a densa floresta que se estende até sudoeste da ilha, ocupando a maior parte da mesma. Esta região é formada pelos municípios de Afuá, Anajás, Breves, Curralinho, Muaná e São Sebastião da Boa Vista. O relevo da região é relativamente plano, ocorrendo extensões na costa leste com altitudes mais elevadas.


Chuva e seca
O período de chuvas no Marajó é distribuído de forma desigual, concentrando-se entre os meses de fevereiro e maio, ocasionando a cheia, que inunda 2/3 da Ilha, transformando as paisagens. O período de estiagem ocorre entre agosto e dezembro, sendo também rigoroso, secando lagos e rios e impossibilitando a navegação em determinados cursos, mudando também a cor dos campos, onde o verde dá lugar a um amarelo queimado. É possível falar em dois Marajós, um das chuvas e outro da seca, pois tudo muda, em um mesmo lugar, ora se anda de carro, ora se anda de barco.

Hidrografia
Outro aspecto interessante da Ilha é sua hidrografia. A região é marcada pela presença de inúmeros rios, igarapés, lagos e furos que a entrecortam em todas as direções e representam importante papel na alimentação e transporte das populações, pois os rios são as principais vias de deslocamento e comunicação das cidades marajoaras.
No período da estiagem, no verão marajoara, os rios baixam seus níveis gradativamente, dificultando a viagem em certos percursos e até impossibilitando a navegação de médio calado. Quando as chuvas caem, porém, a paisagem muda, e as águas fluviais chegam até bem perto das habitações. Esta dinâmica tem influência direta na pecuária da Ilha, fato que tratarei mais adiante.
O rio é a principal via de deslocamento e comunicação da Ilha; por ele longas viagens são realizadas, viagens que chegam a durar dias. Pelos rios também chegam os produtos industrializados, e por ele também são levados os produtos extraídos e/ou produzidos pelas populações da Ilha. É pelo rio que, quase sempre, se chega e sai de uma cidade no Marajó.

Vegetação Quanto à vegetação, o Marajó é formado por floresta nativa, floresta secundária, cerrados, áreas de campos naturais, manguezais e vegetação de igapó. A leste da Ilha predominam os campos, que segundo Vicente Chermont Miranda (1943) são divididos nas seguintes categorias: campos altos, com solo arenoso ou de barro consistente, com plantas forrageiras de boa qualidade; campos pouco alagados, considerados os melhores para o gado, onde estão as melhores fazendas; campos baixos, alagados durante as chuvas, com solo atolento e vegetação cerrada que às vezes chega a cobrir o cavalo; mondongos, campos baixos, atolentos, em parte submersos, com poucas áreas mais elevadas, com predominância dos aningais, frequentemente habitados por jacaré-açú.
No litoral da Ilha, a vegetação cresce de acordo com o tipo de solo e dinâmica das águas. A vegetação de floresta ocupa, com preponderância, a região oeste da Ilha, formada por árvores de grande e médio porte, entrelaçadas por inúmeros cipoais. Tão diversificada como a vegetação, é a fauna local, com inúmeras espécies de mamíferos, aves, peixes, anfíbios, etc. dos quais muitos fazem parte da dieta alimentar do homem marajoara.
Por sua dimensão e diversidade, tanto natural como cultural, é possível falar não de um Marajó, mas de vários. Tem o Marajó dos campos, o Marajó dos lagos, o Marajó oceânico, o das ilhas menores. O Marajó que se relaciona mais com Amapá, como em Mexiana e Caviana. São vários Marajós (XIMENES, 2005).

Ocupação e colonização da Ilha de Marajó
Há poucos relatos históricos sobre a Ilha do Marajó e sobre o povo que ali vivia antes do período de colonização da mesma. Em uma carta de Pe. Antônio Viera ao Rei de Portugal datada de 1659, o Padre relata que a Ilha é rica em espécies vegetais e boa para a agricultura. Três anos depois, uma expedição chefiada por Feliciano Coelho de Carvalho, filho do então governador do Grão-Pará, dirige-se à Ilha disposta a expulsar os estrangeiros e enfrenta uma tribo Aruã. A partir daí os enfrentamentos passam a ser constantes, ficando depois, a cargo dos missionários a tarefa de pacificar os índios (Vieira Barroso 1954).
O relato mais antigo que se tem notícia sobre o Marajó, é de autoria do Frei Gaspar de Carvajal que participou da expedição do Capitão espanhol Francisco Orellana em 1541, que partindo de Quito, alcançou o Oceano Atlântico, pelo rio Amazonas, aportando na Ilha do Marajó.
Posteriormente, com a expansão da dominação portuguesa na Amazônia, muitas crônicas escritas por missionários passaram a ser produzidas, embora se destaque que desde os primeiros relatos, o número de índios na Ilha já era bastante reduzido.
É, na verdade, através dos estudos arqueológico que se pode ter mais informações sobre os povos que viveram no Marajó. A partir de material arqueológico Betty Meggers e Clifford Evans, identificaram cinco fases de ocupação da ilha de Marajó, que seriam representadas por uma sucessão de culturas que não se relacionaram entre si. Assim, as cinco fases que se sucederam em Marajó foram: 1°Ananatuba (1100 AC – 200 AC); 2° Mangueiras (900 AC – 100 DC); 3° Formiga (100 AC – 400 DC); 4° Marajoara (400 DC – 1300 DC) e; 5° Aruã (1200 DC- 1700 DC).
A fase Marajoara foi que ganhou maior destaque nas pesquisas arqueológicas por conta da complexidade existente nessas sociedades, que contrariavam a idéia que se tinha sobre os primitivos moradores da Amazônia, o qual seriam povos de cultura simples e que teriam desaparecido por não poder sobreviver num ambiente tão adverso como o amazônico, cujo modo de sobrevivência estava condicionado aos fatores ambientais.
Nesse contexto, a Ilha do Marajó, por conta de sua posição geográfica estratégica, pelos recursos que dispunha e pelas feições de seu relevo e vegetação, passou a ser um espaço prioritário para a ocupação portuguesa, haja vista que seu território já vinha sendo invadido por outros estrangeiros, Segundo Baena (1968), desde 1654 já ocorriam conflitos entre os índios aruãs, aliados aos holandeses, contra os portugueses. A preocupação em assegurar o controle português na Ilha era tão grande que se chegou até a propor a transferência da capital de Belém para o Marajó.
Como os conflitos continuavam, e vendo o governo português decidiu não exterminar os índios, mas conquistá-los e controlá-los, para que esses servissem como mão-de-obra na própria colonização da Ilha. Neste processo, a participação das missões religiosas foi fator fundamental para o sucesso da ocupação do Marajó pelos portugueses. Em 1659, com uma comitiva composta por Oficiais, Principais e Mosqueteiros, Pe. Antônio Vieira é enviado à Ilha com o objetivo de estabelecer a paz. A partir daí a ocupação foi efetivada e a penetração dos jesuítas começou.
Com o progresso da colonização da Ilha, os missionários, mercedários e jesuítas, mostraram-se bons administradores e os locais que estavam sob seu controle, apresentaram grande desenvolvimento. Porém, o controle dos missionários, por ter se tornado poderoso acabou por provocar descontentamento por parte dos colonos e representar ameaças ao governo colonial.
Neste contexto, na metade do século XVIII, sob a justificativa de dar liberdade aos índios, o Marquês de Pombal, expulsa os jesuítas do Brasil e confisca seus bens. No Marajó, as grandes áreas ocupadas pelos missionários, que incluíam extensas fazendas de gado, são confiscadas e os rebanhos transferidos para as mãos do governo português.
Após a expulsão dos jesuítas, instaura-se um novo momento no processo de colonização da Ilha, que foi marcado pela distribuição e concentração de terras nas mãos de algumas famílias, intensificação da exploração indígena e expansão das fazendas para o interior da Ilha, dando origem a nova classe social: os fazendeiros, que detém até hoje o poder econômico da Ilha do Marajó.


Referências


ARAÚJO, Sônia Maria da Silva. Cultura e escolas-de-fazenda na ilha de Marajó, um estudo com base em Raymond Williams. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Educação da FEUSP. São Paulo, 2002.
BAENA, Ladislau Monteiro. Compêndio das Eras da Província do Pará. Universidade do Pará. 1968.
17(47), 2003.
BOULHOSA, Marinete da Silva. Museu do Marajó: resgatando, preservando e divulgando a cultura marajoara. Belém - PA, 1997 (Monografia – graduação em turismo – UFPA).
______. Ecoturismo no Marajó: O Desafio do Desenvolvimento Sustentável, num Cenário de Contradições. Belém-PA, 2001. (Monografia – Especialização em Planejamento do Desenvolvimento- NAEA/UFPA).
______. Ecoturismo e identidade cultural: a natureza sob o prisma do caboclo marajoara. Belém-PA, 2002 (Monografia – Especialização em Ecoturismo NUMA/UFPA).
CARVAJAL, G., A. Rojas and C. Acuña. Descobrimentos do Rio das Amazonas. Translated by C. Melo-Leitão. São Paulo: Cia Editora Nacional, 1941.
GALVÃO, Eduardo. Guia de exposição de antropologia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 1962.
JURANDIR, Dalcídio. Marajó. 3º ed. Belém: Cejup, 1992
IRANDA NETO. Marajó: desafio da Amazônia. 3ª ed. rev. e atual. Belém: Edufpa, 2005.
MIRANDA, Vicente Chermont de. Os campos de Marajó considerados sob o ponto de vista pastoril. Boletim do Museu Paraense de História Natural e ethnographia. Belém, n.5, p. 96-151, 1908.
NUNES PEREIRA, Manuel. A ilha de Marajó: estudo econômico-social. Série Estudos Brasileiros. n º8 Ministério da Agricultura. Rio de janeiro, 1956.